Autismo e Darbepoetina: Uma Janela Terapêutica Limitada?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa, influenciada por fatores genéticos e ambientais que afetam o desenvolvimento neural desde cedo. Pesquisas têm explorado o potencial da eritropoetina (EPO) e seus análogos, como a darbepoetina alfa, devido às suas propriedades neuroprotetoras e capacidade de influenciar o desenvolvimento neurológico em modelos de TEA. No entanto, um desafio crucial reside no momento da intervenção, já que o diagnóstico de TEA geralmente ocorre entre 2 e 3 anos de idade, um período significativamente posterior ao desenvolvimento pós-natal inicial.
Um estudo recente investigou a eficácia da darbepoetina alfa, um análogo da EPO de ação prolongada, em ratos expostos ao ácido valproico, um modelo animal utilizado para estudar o TEA. Os pesquisadores administraram darbepoetina alfa a partir do 21º dia pós-natal, durante cinco dias consecutivos, e avaliaram os comportamentos sociais e cognitivos relevantes para o TEA. Os resultados revelaram que, apesar da atividade sistêmica clara, demonstrada por um aumento substancial no hematócrito (aproximadamente 70%), não houve melhorias significativas nos comportamentos associados ao TEA. Os testes comportamentais incluíram o teste de três câmaras e o labirinto aquático de Morris, ambos utilizados para avaliar habilidades sociais e de aprendizado.
Esses achados sugerem que a janela terapêutica para análogos da EPO pode se fechar antes do período de diagnóstico clínico do TEA em humanos. Este é um desafio translacional importante: intervenções eficazes em fases neonatais iniciais podem não manter a mesma eficácia quando aplicadas em estágios de desenvolvimento em que o diagnóstico é normalmente feito. A resposta hematológica pronunciada também impede a avaliação de se doses mais elevadas poderiam compensar o atraso no tratamento, embora derivados não eritropoéticos possam contornar essa limitação em estudos futuros. A pesquisa destaca a necessidade de explorar abordagens terapêuticas que sejam eficazes em estágios mais tardios do desenvolvimento, alinhando-se melhor com o período de diagnóstico do TEA e abrindo caminho para intervenções mais relevantes clinicamente.
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