Exposição Pré-Natal ao Ácido Valpróico e Impacto no Desenvolvimento Cerebral em Modelo Animal
Estudos recentes têm demonstrado que alterações na função dos circuitos cerebelares, especificamente nos lóbulos Crus I/II, estão associadas a transtornos do espectro autista (TEA). Essas alterações podem impactar o comportamento motor e a interação social. Uma pesquisa publicada no European Journal of Neuroscience investigou como a exposição pré-natal ao ácido valpróico (VPA), um medicamento utilizado no tratamento de epilepsia e transtorno bipolar, afeta a plasticidade sináptica em sinapses de fibras musgosas-células granulares (MF-GC) no cerebelo de filhotes de camundongos.
O estudo utilizou estimulação facial para evocar a plasticidade sináptica e observou que, em camundongos controle, a estimulação facial a 20 Hz induzia LTP (potenciação de longo prazo) nas sinapses MF-GC quando o receptor GABAA era bloqueado. No entanto, em filhotes expostos ao VPA, a mesma estimulação desencadeava LTD (depressão de longo prazo). Além disso, o bloqueio dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) eliminou a LTP nos camundongos controle, enquanto revelou LTD nos filhotes tratados com VPA. É importante notar que a LTD induzida pela estimulação facial nos filhotes expostos ao VPA foi abolida ao bloquear os receptores metabotrópicos de glutamato do grupo I (mGluR), indicando um papel crucial desses receptores.
Os resultados sugerem que a exposição pré-natal ao VPA pode levar a uma hipersensibilidade dos receptores mGluR1/5 e do receptor canabinóide 1 (CB1) no cerebelo. A ativação farmacológica de mGluR1/5 ou CB1 induziu LTD nas sinapses MF-GC e superou a LTP induzida pela estimulação facial em filhotes tratados com VPA. Adicionalmente, análises imuno-histoquímicas revelaram que os níveis de expressão de mGluR1/5 eram significativamente mais elevados nas células granulares do cerebelo de filhotes expostos ao VPA em comparação com os camundongos controle. Em conjunto, esses achados indicam que a exposição gestacional ao VPA pode prejudicar a LTP das sinapses MF-GC, aumentando a sinalização da cascata do receptor mGluR1/5-DGL-CB1, o que pode ter implicações no desenvolvimento neurológico e nos riscos associados ao TEA.
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