A Culpa na Enfermagem: Desafios Éticos e o Impacto Sistêmico na Saúde
A experiência de culpa entre profissionais de enfermagem transcende a esfera individual, configurando-se como um sintoma de desafios éticos profundamente enraizados nas estruturas do sistema de saúde. Um estudo recente explora essa culpa como um fenômeno multidimensional, influenciado por fatores institucionais, relacionais e subjetivos, revelando as tensões existentes entre os valores do cuidado e as condições que limitam a sua prática efetiva.
A análise identificou oito categorias principais que contribuem para o sentimento de culpa: sofrimento moral, restrições institucionais, efeitos emocionais e físicos, cuidados no fim da vida, conflitos éticos com famílias, espiritualidade, consentimento informado e estratégias de enfrentamento. Frequentemente, a culpa não surge de erros pessoais, mas sim da dissonância ética entre os valores intrínsecos dos enfermeiros e as realidades clínicas enfrentadas diariamente. Hierarquias rígidas, protocolos inflexíveis, procedimentos burocráticos e a escassez de recursos minam a capacidade de ação moral dos enfermeiros, fomentando um isolamento ético prejudicial.
Essa individualização da culpa, por sua vez, obscurece a responsabilidade sistêmica, transformando o sofrimento moral em fracasso pessoal. O estudo aponta para a necessidade urgente de uma reconceituação política do cuidado, que vá além da resiliência individual e promova uma responsabilidade ética compartilhada dentro das equipes de saúde. Reconhecer a culpa como um indicador sistêmico de disfunção ética é crucial para reumanizar a prática da enfermagem, fortalecer a subjetividade ética dos profissionais e criar ambientes de cuidado mais justos e transformadores. Ao abordar a culpa dessa forma, capacita-se os enfermeiros não apenas a resistir ao sofrimento moral, mas também a remodelar as condições estruturais que o perpetuam, promovendo um sistema de saúde mais ético e centrado no bem-estar de todos os envolvidos.
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