Saúde Desvendada

A vida com HIV/AIDS já impõe desafios significativos, desde as limitações físicas e cognitivas decorrentes da doença até os estigmas sociais. Imagine, então, somar a essa realidade a complexidade da pandemia de COVID-19. Para muitos, a combinação dessas duas condições se traduziu em um cenário de ainda maior fragilidade e dependência. É nesse contexto que a terapia ocupacional, ancorada nos princípios dos cuidados paliativos, emerge como uma ferramenta poderosa para promover o bem-estar e a qualidade de vida.

O Impacto da COVID-19 em Pessoas Vivendo com HIV/AIDS

A pandemia escancarou as vulnerabilidades existentes no sistema de saúde e amplificou as dificuldades enfrentadas por pessoas vivendo com HIV/AIDS. Estudos apontam que o risco de mortalidade por COVID-19 era significativamente maior nesse grupo. Além disso, a necessidade de isolamento social, o medo da contaminação e as interrupções no acesso aos serviços de saúde impactaram negativamente a adesão ao tratamento antirretroviral e a manutenção da qualidade de vida.

Terapia Ocupacional: Um Olhar Holístico e Individualizado

A terapia ocupacional vai além do tratamento de sintomas físicos. Ela se concentra em ajudar as pessoas a realizar as atividades que são importantes e significativas para elas, promovendo a autonomia, a participação social e o bem-estar emocional. No contexto do HIV/AIDS e da COVID-19, essa abordagem se torna ainda mais crucial.

Um estudo de caso recente, publicado na revista Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, ilustra o impacto positivo da intervenção da terapia ocupacional em um jovem adulto hospitalizado com COVID-19 e HIV/AIDS. O paciente apresentava dependência total nas atividades de vida diária (AVDs), como tomar banho, se vestir e se alimentar, além de sofrimento emocional intenso relacionado ao medo da morte e baixa adesão ao tratamento.

Intervenções Personalizadas para Recuperar a Autonomia

A equipe de terapia ocupacional implementou uma série de intervenções personalizadas, incluindo:

• Treino das AVDs e habilidades motoras: Auxílio para recuperar a independência nas tarefas cotidianas, adaptando as atividades e utilizando recursos de tecnologia assistiva quando necessário.
• Adequação ambiental: Adaptação do ambiente hospitalar para facilitar a mobilidade e a segurança do paciente.
• Escuta ativa e apoio emocional: Criação de um espaço seguro para o paciente expressar seus medos, angústias e esperanças.
• Fortalecimento do autogerenciamento da saúde: Educação sobre a importância da adesão ao tratamento antirretroviral e estratégias para lidar com os efeitos colaterais.
• Orientações sobre diretivas antecipadas de vontade: Discussão sobre os desejos e valores do paciente em relação aos cuidados de saúde futuros, promovendo o planejamento antecipado e o respeito à sua autonomia.

Resultados Encorajadores

Após a intervenção da terapia ocupacional, o paciente apresentou melhorias significativas em sua qualidade de vida. Ele recuperou a independência em diversas AVDs, melhorou a adesão ao tratamento antirretroviral e retomou projetos de vida que haviam sido interrompidos pela doença.

Cuidados Paliativos: Um Componente Essencial

É importante ressaltar que a terapia ocupacional nesse contexto está intrinsecamente ligada aos princípios dos cuidados paliativos. Esses cuidados visam aliviar o sofrimento físico, emocional e espiritual de pessoas que enfrentam doenças graves, como o HIV/AIDS e a COVID-19, independentemente da fase da doença. O objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares.

A Importância de um Olhar Integrado

A história desse jovem demonstra a importância de um olhar integrado e multidisciplinar no tratamento de pessoas vivendo com HIV/AIDS e COVID-19. A terapia ocupacional, ao promover a autonomia, o bem-estar e a participação social, desempenha um papel fundamental na construção de uma vida mais digna e significativa.

Se você ou alguém que você conhece está enfrentando desafios semelhantes, procure um profissional de terapia ocupacional especializado em cuidados paliativos. Essa intervenção pode fazer toda a diferença na jornada de recuperação e bem-estar.

Fonte original: https://www.scielo.br/j/cadbto/a/x8bdwjgq4GkqhnBGCJwZMCR/?lang=en