Saúde Desvendada

A pandemia da COVID-19 impactou profundamente a vida de todos, mas os idosos foram particularmente afetados, enfrentando maiores riscos de hospitalização e complicações. Em meio a esse cenário desafiador, a terapia ocupacional emergiu como uma ferramenta crucial para auxiliar na recuperação e reintegração desses pacientes. Mas, como exatamente essa terapia atua e quais são os benefícios que ela oferece? É o que vamos desvendar neste artigo.

O Envelhecimento e a Vulnerabilidade Diante da COVID-19

O envelhecimento natural traz consigo uma série de mudanças físicas e cognitivas. A diminuição da força muscular, a redução da capacidade respiratória e a maior suscetibilidade a doenças são apenas alguns dos desafios que os idosos enfrentam. Soma-se a isso o fato de que, durante a hospitalização, esses indivíduos podem sofrer com imobilidade, perda de massa muscular e privação sensorial, o que agrava ainda mais sua condição.

A COVID-19, por sua vez, intensificou esses problemas. O vírus, altamente contagioso e com potencial para causar complicações respiratórias graves, colocou os idosos em um grupo de risco ainda maior. A necessidade de internação, muitas vezes prolongada, contribuiu para o declínio funcional e a perda da autonomia.

A Terapia Ocupacional: Um Caminho para a Recuperação

Nesse contexto, a terapia ocupacional desempenha um papel fundamental. Essa área da saúde visa promover a independência e a qualidade de vida dos pacientes, auxiliando-os a realizar as atividades do dia a dia, como se vestir, tomar banho, cozinhar e trabalhar.

No caso dos idosos hospitalizados por COVID-19, a terapia ocupacional atua de diversas formas. Um estudo realizado em hospitais do Chile, entre 2020 e 2022, identificou algumas das principais estratégias utilizadas pelos terapeutas ocupacionais. Vejamos algumas delas:

Estimulação Polissensorial

A estimulação polissensorial envolve o uso de diferentes estímulos sensoriais, como sons, luzes, aromas e texturas, para despertar e ativar o sistema nervoso dos pacientes. Essa técnica pode ser especialmente útil para aqueles que apresentam quadros de confusão mental ou delirium, comuns em pacientes hospitalizados.

Mobilização Precoce

A mobilização precoce consiste em incentivar o paciente a se movimentar o mais cedo possível após a internação. Isso ajuda a prevenir a perda de massa muscular, a melhorar a circulação sanguínea e a reduzir o risco de complicações respiratórias. Os terapeutas ocupacionais utilizam exercícios terapêuticos e atividades funcionais para estimular o movimento e a coordenação.

Estimulação Cognitiva

A estimulação cognitiva visa melhorar a atenção, a memória e outras funções mentais dos pacientes. Os terapeutas ocupacionais utilizam jogos, quebra-cabeças e outras atividades lúdicas para estimular o cérebro e promover a recuperação cognitiva.

Manejo Ambiental

O manejo ambiental envolve a adaptação do ambiente hospitalar para torná-lo mais seguro, acessível e estimulante para o paciente. Isso pode incluir a instalação de barras de apoio no banheiro, a organização do quarto de forma a facilitar a locomoção e a utilização de recursos visuais para orientar o paciente.

Comunicação à Distância

Em tempos de pandemia, a comunicação à distância tornou-se ainda mais importante. Os terapeutas ocupacionais utilizam recursos como videochamadas e aplicativos de mensagens para manter o paciente conectado com seus familiares e amigos, o que contribui para o bem-estar emocional e a motivação para a recuperação.

Abordagem das Atividades de Vida Diária (AVDs)

Um dos principais focos da terapia ocupacional é auxiliar o paciente a recuperar a capacidade de realizar as atividades de vida diária (AVDs), como se alimentar, se vestir, tomar banho e ir ao banheiro. Os terapeutas ocupacionais adaptam as atividades, fornecem equipamentos de auxílio e ensinam técnicas para facilitar a realização das tarefas.

Outras Estratégias

Além das estratégias mencionadas, os terapeutas ocupacionais também utilizam outras abordagens, como o manejo não farmacológico da dor, o protocolo do sono, a prevenção e o manejo não farmacológico do delirium, e a prescrição de auxílios técnicos, como cadeiras de rodas, andadores e adaptações para utensílios domésticos.

A Importância da Equipe Interdisciplinar

É importante ressaltar que a terapia ocupacional não atua isoladamente. Ela faz parte de uma equipe interdisciplinar, que inclui médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e outros profissionais da saúde. A colaboração entre esses profissionais é fundamental para garantir uma abordagem holística e individualizada, que atenda às necessidades específicas de cada paciente.

O estudo chileno também destacou que a pandemia impôs uma grande carga de trabalho aos profissionais de saúde, o que afetou sua saúde mental. É fundamental que as instituições de saúde ofereçam suporte e recursos para garantir o bem-estar dos seus colaboradores, para que eles possam continuar a oferecer um atendimento de qualidade aos pacientes.

Conclusão

A terapia ocupacional é uma ferramenta valiosa para auxiliar os idosos hospitalizados por COVID-19 a recuperar a qualidade de vida e a independência. Ao atuar em diversas áreas, como a estimulação sensorial, a mobilização, a cognição e as atividades de vida diária, essa terapia promove a recuperação funcional e o bem-estar emocional dos pacientes. Em um contexto de envelhecimento populacional e de desafios impostos pela pandemia, a terapia ocupacional se torna cada vez mais essencial para garantir uma vida digna e ativa para os idosos.

Fonte original: https://www.scielo.br/j/cadbto/a/QJJB5XYgYRP9zqMTsJtcp9z/?lang=en