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Compreendendo o Mundo Sensorial do Autismo: Um Guia para Pais e Profissionais

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição complexa que afeta a maneira como uma pessoa interage com o mundo. Embora a comunicação social e os comportamentos repetitivos sejam as características mais conhecidas, as diferenças no processamento sensorial também desempenham um papel crucial na experiência autista. De fato, estudos apontam que entre 40% e 80% das crianças com TEA apresentam alterações sensoriais significativas. Mas o que isso significa e como podemos ajudar?

O Que é Processamento Sensorial e Por Que é Importante?

O processamento sensorial se refere à maneira como nosso sistema nervoso recebe, interpreta e responde aos estímulos do ambiente. Para a maioria das pessoas, esse processo acontece de forma automática e integrada. No entanto, em indivíduos com TEA, o processamento sensorial pode ser atípico, levando a hipersensibilidade (reações exageradas) ou hipossensibilidade (reações diminuídas) a estímulos como luz, som, toque, cheiro, paladar e movimento.

Imagine uma criança que se sente extremamente desconfortável com a etiqueta de uma camisa, o barulho de um aspirador de pó ou a textura de certos alimentos. Ou, por outro lado, uma criança que busca constantemente estímulos intensos, como girar sem parar ou apertar objetos com força. Essas diferenças sensoriais podem impactar significativamente o comportamento, o aprendizado e a qualidade de vida.

A Percepção de Pais e Profissionais: Um Olhar Divergente

Um estudo recente publicado na revista Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional investigou a percepção de pais e profissionais sobre o processamento sensorial em crianças com TEA entre 3 e 6 anos. A pesquisa revelou algo interessante: pais e terapeutas muitas vezes têm visões diferentes sobre como as crianças processam as informações sensoriais.

Em geral, os terapeutas tendem a avaliar o processamento sensorial das crianças de forma mais positiva do que os pais. Isso pode ocorrer porque os profissionais têm experiência e conhecimento especializado para interpretar os comportamentos das crianças em um contexto terapêutico, enquanto os pais podem estar mais focados nos desafios do dia a dia em casa. É importante ressaltar que ambas as perspectivas são válidas e complementares.

A Importância da Intervenção Precoce e da Colaboração Multidisciplinar

O estudo também destacou a importância da intervenção precoce para crianças com TEA e a necessidade de equipes multidisciplinares para oferecer um suporte abrangente. Médicos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicólogos e educadores podem trabalhar em conjunto para desenvolver estratégias personalizadas que ajudem as crianças a regular suas respostas sensoriais e a participar plenamente em suas atividades.

A terapia ocupacional, em particular, desempenha um papel fundamental na intervenção sensorial. Os terapeutas ocupacionais podem usar técnicas de integração sensorial para ajudar as crianças a organizar e interpretar as informações sensoriais de forma mais eficaz. Isso pode incluir atividades como balançar, pular, brincar com massinha ou usar materiais com diferentes texturas.

O Papel da Família: Observação, Comunicação e Adaptação

A família é um elo essencial no processo de intervenção. Os pais são os maiores conhecedores de seus filhos e podem fornecer informações valiosas sobre suas preferências, aversões e reações sensoriais. É importante que os pais observem atentamente o comportamento de seus filhos, comuniquem suas preocupações aos profissionais e trabalhem em colaboração para criar um ambiente familiar que seja seguro, previsível e sensorialmente adequado.

Pequenas adaptações no ambiente podem fazer uma grande diferença. Por exemplo, usar luzes suaves em vez de fluorescentes, reduzir o ruído de fundo, oferecer roupas confortáveis sem etiquetas e apresentar alimentos com diferentes texturas gradualmente. O objetivo é criar um ambiente que minimize o estresse sensorial e maximize o conforto e a participação da criança.

Além do Estudo: Reflexões e Próximos Passos

A pesquisa sobre o processamento sensorial no TEA continua a evoluir, oferecendo novas perspectivas e ferramentas para ajudar crianças e famílias. É fundamental que pais e profissionais se mantenham atualizados sobre as últimas descobertas e trabalhem em conjunto para promover o bem-estar e o desenvolvimento das crianças com TEA. Lembre-se, cada criança é única e o que funciona para uma pode não funcionar para outra. A chave é a observação atenta, a comunicação aberta e a busca por soluções personalizadas.


Fonte original: https://www.scielo.br/j/cadbto/a/YYzhwdfbfxjQCPvhNVtnCyk/?lang=en

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