Saúde Desvendada

A saúde é um direito fundamental, e a forma como os serviços de saúde são distribuídos e acessados diz muito sobre a qualidade de vida de uma população. No Brasil, a Atenção Primária à Saúde (APS) é a porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS), responsável por resolver grande parte das necessidades de saúde das pessoas. Mas como anda a distribuição de um serviço essencial como a fisioterapia dentro dessa estrutura?

O Que Dizem os Números? Uma Análise Espaço-Temporal

Um estudo recente analisou a distribuição da fisioterapia ambulatorial na APS entre 2008 e 2022, mapeando as diferenças entre as regiões do país. A pesquisa, focada em dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA) e do IBGE, revela um cenário interessante e, em alguns pontos, preocupante.

Os resultados mostram que a região Sul se destacou com as maiores taxas de atendimentos de fisioterapia ambulatorial em quase todos os anos analisados, de 2013 a 2022 (com exceção de 2016). Enquanto isso, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste apresentaram uma tendência estacionária, ou seja, sem grandes variações no volume de atendimentos. Já as regiões Sul e Sudeste, mostraram um crescimento de 12.3% e 6.4% respectivamente.

Por Que Essa Disparidade Regional?

Essa diferença na distribuição dos serviços de fisioterapia levanta algumas questões importantes. Por que o Sul concentra uma maior quantidade de atendimentos? Será que a demanda é maior nessa região, ou há outros fatores em jogo, como melhor infraestrutura, maior número de profissionais ou políticas públicas mais eficientes?

É fundamental investigar as causas dessas disparidades para garantir que todas as regiões do Brasil tenham acesso equitativo a serviços essenciais como a fisioterapia. Afinal, as necessidades de reabilitação e prevenção de problemas musculoesqueléticos não escolhem CEP.

A Fisioterapia na APS: Mais do Que Reabilitação

A fisioterapia na Atenção Primária vai além da simples reabilitação. Ela desempenha um papel crucial na prevenção de doenças, na promoção da saúde e na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Um fisioterapeuta na APS pode:

• Orientar sobre postura e ergonomia no trabalho e em casa.
• Prescrever exercícios para fortalecer a musculatura e prevenir lesões.
• Acompanhar pacientes com doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, auxiliando no controle da dor e na melhora da mobilidade.
• Promover a saúde de gestantes e puérperas, preparando o corpo para o parto e auxiliando na recuperação pós-parto.
• Atuar na reabilitação de pacientes após cirurgias ou traumas.

Estratégias Para Expandir o Acesso à Fisioterapia

Diante desse cenário, é crucial pensar em estratégias para expandir o acesso à fisioterapia na APS em todas as regiões do Brasil. Algumas possíveis soluções incluem:

• Investimento em formação e contratação de fisioterapeutas: É preciso garantir um número suficiente de profissionais qualificados para atender à demanda da população.
• Fortalecimento das equipes multiprofissionais: A integração da fisioterapia nas equipes de saúde da família é fundamental para garantir um atendimento mais completo e integrado.
• Implementação de programas de educação em saúde: Informar a população sobre os benefícios da fisioterapia e incentivar a busca por esses serviços pode aumentar a demanda e, consequentemente, a oferta.
• Utilização de teleconsultas e outras tecnologias: A telemedicina pode ser uma ferramenta importante para ampliar o acesso à fisioterapia em áreas remotas ou com poucos profissionais.

O Futuro da Fisioterapia na APS

O estudo aponta para uma necessidade urgente de repensar a distribuição da fisioterapia na Atenção Primária à Saúde no Brasil. Garantir que todas as regiões tenham acesso equitativo a esses serviços é fundamental para promover a saúde e a qualidade de vida da população. A fisioterapia não é um luxo, mas sim um direito, e é preciso lutar para que ela esteja disponível para todos, independentemente de onde morem.

Fonte original: https://www.scielo.br/j/fm/a/LRdcKnQz8v3wxwPG5VHcVww/?lang=en