Desvendando a Complexa Intersecção entre Síndrome de Rett e Tourette: Um Relato de Caso
Um estudo recente publicado na revista Frontiers in Pediatrics detalha o caso de uma adolescente com uma apresentação atípica de síndromes neurodesenvolvimentais, combinando características da Síndrome de Rett (RTT) e da Síndrome de Tourette (TS). A Síndrome de Rett é uma condição genética progressiva, ligada ao cromossomo X, que afeta principalmente meninas, com uma incidência de aproximadamente 1 em cada 10.000 indivíduos do sexo feminino. A pesquisa identificou a presença de variantes nos genes MECP2 e GABBR1 nesta paciente, levantando questões importantes sobre a interação entre essas mutações e suas manifestações clínicas.
A paciente, uma menina de 13 anos, apresentava um quadro complexo que incluía Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Deficiência Intelectual (DI). Aos 9 anos, ela começou a desenvolver tiques vocais e motores, envolvendo principalmente os membros superiores e o tronco, o que levou à suspeita de Síndrome de Tourette. É importante notar que a mãe e a avó da paciente também apresentavam tiques, sugerindo um componente hereditário. A análise genética revelou uma variante de novo no gene MECP2 (p. R133C) na probanda, além de uma variante herdada da mãe no gene GABBR1 (p. F692S), também presente na mãe e na avó. Essa variante no GABBR1, classificada como VoUS classe 3, não teve sua patogenicidade confirmada por estudos funcionais e não havia sido previamente associada à Síndrome de Tourette.
Os pesquisadores levantaram a hipótese de que a variante no gene GABBR1 poderia exacerbar as manifestações da síndrome de Rett associada à mutação no MECP2 e, potencialmente, contribuir para o desenvolvimento dos sintomas de Tourette observados na paciente e em seus familiares. Embora características semelhantes às da síndrome de Rett sejam primariamente atribuídas à perda de função do MECP2, a deficiência desse gene pode afetar a sinalização GABAérgica, tornando os moduladores do GABA alvos terapêuticos promissores. A presença da variante no GABBR1 poderia, teoricamente, comprometer ainda mais a neurotransmissão do receptor GABA. Apesar dos esforços para controlar a condição da paciente com terapias farmacológicas, a hipertonia muscular progressiva e os problemas comportamentais persistiram. No entanto, a paciente demonstrou melhorias no engajamento e na regulação emocional durante sessões de musicoterapia. O estudo conclui enfatizando a necessidade de pesquisas futuras para caracterizar melhor as correlações genótipo-fenótipo e otimizar as estratégias terapêuticas para atender às necessidades únicas da paciente e de sua família, considerando a intersecção complexa entre as síndromes de Rett e Tourette.
Origem: Link