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A Paternidade em Transformação: De Coadjuvante a Protagonista na Família Moderna

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A imagem do pai como provedor, distante e pouco envolvido na criação dos filhos, está cada vez mais desatualizada. A paternidade contemporânea assume novas formas, com homens desejosos de participar ativamente da vida de seus filhos desde o pré-natal até a adolescência. Mas essa transição nem sempre é fácil. Como os homens estão vivenciando essa mudança de papéis e quais os desafios que encontram nesse novo cenário?

**Expectativas versus Realidade: A Paternidade Desmistificada**

Um estudo recente publicado no *Estudos de Psicologia* investigou a experiência da paternidade em homens primíparos, ou seja, pais de primeira viagem. A pesquisa, conduzida por meio de entrevistas longitudinais (durante o pré-natal e o pós-parto), revelou uma série de insights valiosos sobre a jornada da paternidade.

Um dos pontos centrais destacados pelos participantes foi a diferença entre as expectativas e a realidade da paternidade. Muitos idealizavam um envolvimento constante e ativo, mas se deparavam com a falta de informação e preparo para lidar com as demandas do dia a dia. Trocar fraldas, noites mal dormidas, cólicas… A rotina do bebê exige dedicação e paciência, qualidades que nem sempre são fáceis de acessar, especialmente para aqueles que foram criados em um modelo familiar mais tradicional.

**Da Invisibilidade ao Protagonismo: Buscando um Espaço na Maternidade**

Outro tema recorrente na pesquisa foi a sensação de “invisibilidade” sentida por alguns pais. Em um contexto em que a figura materna ainda é central na gravidez e nos primeiros meses do bebê, muitos homens se sentem deixados de lado, sem espaço para expressar suas dúvidas e anseios. A falta de programas de apoio e orientação voltados para os pais, especialmente por parte dos profissionais de saúde mental, contribui para essa sensação de exclusão.

No entanto, a pesquisa também aponta para um desejo crescente dos homens de serem protagonistas na vida de seus filhos. Eles querem participar ativamente dos cuidados, brincar, educar e construir um vínculo forte e significativo. Essa busca por protagonismo muitas vezes esbarra em estereótipos de gênero e na dificuldade de conciliar as demandas do trabalho com as da paternidade.

**Identificação e Emoções: Desvendando a Psique Paterna**

O estudo também explorou o processo de identificação dos pais com suas esposas e os sentimentos que surgem durante a gravidez e o pós-parto. A identificação com a mãe, o reconhecimento da sua importância e dedicação, pode gerar admiração, mas também, em alguns casos, sentimentos de inveja. Afinal, a conexão entre mãe e filho se inicia muito antes do nascimento, o que pode gerar na figura paterna uma sensação de ter perdido o “timing” de se conectar. Esses sentimentos, muitas vezes silenciados, precisam ser reconhecidos e elaborados para que o pai possa construir uma relação saudável com o filho.

**A Pandemia como Catalisador: Impactos e Reflexões**

A pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios para a paternidade. O isolamento social, por um lado, permitiu que alguns pais passassem mais tempo com seus filhos, fortalecendo o vínculo e a participação nos cuidados. Por outro lado, as preocupações econômicas e o estresse do dia a dia impactaram a saúde mental dos pais, dificultando o exercício da paternidade de forma plena.

A pesquisa revelou que a pandemia também proporcionou um senso de proteção da privacidade familiar. O isolamento forçado permitiu que as famílias se concentrassem em seus lares, sem a pressão de compromissos sociais ou visitas externas. Essa “bolha” familiar, embora desafiadora, também fortaleceu os laços e permitiu que os pais se conectassem de forma mais profunda com seus filhos.

**O Futuro da Paternidade: Um Chamado à Ação**

A pesquisa demonstra que a paternidade está em constante transformação. Os homens estão cada vez mais conscientes do seu papel na criação dos filhos e desejam participar ativamente da vida familiar. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para que a paternidade seja reconhecida e valorizada em sua totalidade.

É fundamental que os profissionais de saúde mental ofereçam apoio e orientação aos pais durante a gravidez e o pós-parto. Programas de educação parental, grupos de apoio e terapias individuais ou de casal podem ajudar os homens a lidar com os desafios da paternidade, a construir um vínculo forte com seus filhos e a se sentirem mais confiantes e seguros em seu papel. Além disso, é importante que a sociedade como um todo desconstrua estereótipos de gênero e valorize a participação dos pais na criação dos filhos. Uma paternidade ativa e engajada é fundamental para o desenvolvimento saudável das crianças e para a construção de famílias mais felizes e equilibradas.

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