A fístula enterovesical (FEV) é uma condição rara que se caracteriza pela comunicação anormal entre o intestino e a bexiga. Em muitos casos, ela se manifesta por sintomas clássicos como pneumatúria (presença de ar na urina), fecalúria (presença de fezes na urina) ou infecções urinárias recorrentes. Contudo, o diagnóstico pode ser consideravelmente desafiador em pacientes não verbais ou naqueles que apresentam sintomas atípicos, retardando o tratamento adequado e aumentando o risco de complicações.
Um estudo de caso recente destaca a importância de considerar a FEV mesmo diante de manifestações incomuns. O caso envolveu uma paciente de 27 anos, não verbal, com autismo e retardo no desenvolvimento, que foi internada na UTI com crises convulsivas recorrentes, diarreia intensa e distúrbios eletrolíticos graves. Seu histórico médico revelava infecções urinárias repetidas causadas por Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli, além de um quadro de síndrome da cauda equina que demandou intervenção neurocirúrgica, resultando em bexiga neurogênica. Surpreendentemente, a paciente já havia sido diagnosticada e submetida a correção cirúrgica de uma FEV um ano antes, mas a condição reapareceu durante essa internação.
A recorrência da fístula foi confirmada por tomografia computadorizada (TC) urografia, que evidenciou a comunicação anormal na porção superior da bexiga, além de níveis hidroaéreos no cólon com contraste e refluxo para o ureter direito. A FEV contribuiu para desequilíbrios eletrolíticos significativos, como hipocalemia (níveis baixos de potássio) e hipocalcemia (níveis baixos de cálcio), que agravaram as crises convulsivas. Este caso ressalta a necessidade de manter um alto nível de suspeição para FEV em pacientes não verbais, mesmo quando apresentam sintomas inespecíficos como convulsões e diarreia. A vigilância clínica e a realização de exames de imagem oportunos são cruciais para um diagnóstico preciso e uma gestão eficaz, prevenindo complicações sérias e orientando a intervenção cirúrgica quando necessária.
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