Erros inatos da imunidade (IEI), também conhecidos como imunodeficiências primárias, são desordens crônicas congênitas frequentemente associadas a sintomas neurocomportamentais. Tradicionalmente, esses sintomas eram considerados secundários ao fardo da doença. No entanto, uma nova pesquisa investiga as origens desses sintomas, revelando uma conexão direta entre os genes associados a IEI e o desenvolvimento neural.
O estudo demonstrou que os genes relacionados a IEI são expressos em linhagens neurais durante o desenvolvimento do cérebro humano. Surpreendentemente, mesmo na ausência de desafios imunológicos, mutações de IEI podem comprometer as trajetórias de desenvolvimento neurológico, levando a defeitos psicomotores. Essa descoberta sugere que as manifestações neurológicas em IEI podem não ser apenas uma consequência da doença, mas sim um resultado direto de como essas mutações afetam o desenvolvimento do cérebro.
Para aprofundar essa compreensão, pesquisadores utilizaram modelos animais, especificamente camundongos com a síndrome WHIM (Warts hypogammaglobulinemia immunodeficiency myelokathexis). Esses camundongos, portadores de uma mutação que causa a hiperativação de Cxcr4, exibiram defeitos no desenvolvimento do cerebelo, correlacionados com disfunções sensório-motoras e afetivas, replicando alterações observadas em pacientes humanos. A análise em nível de célula única do cerebelo desses camundongos revelou uma desregulação transcricional significativa em progenitores de células granulares, cuja proliferação e migração aberrantes induzem defeitos na foliação e nos circuitos cerebelares. O tratamento com AMD3100, por injeção intracerebroventricular, conseguiu reverter tanto os defeitos morfológicos quanto os comportamentais, demonstrando sua origem específica no cérebro e dependente de Cxcr4. Esses achados ressaltam a importância das implicações do desenvolvimento neurológico nas manifestações psicomotoras de IEI, expandindo a compreensão dessas condições além das disfunções imunes. A pesquisa abre novas avenidas para o desenvolvimento de terapias mais direcionadas, focadas não apenas no sistema imunológico, mas também no suporte ao desenvolvimento neurológico em pacientes com IEI.
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