Laços Afetivos e Saúde Mental: Descobertas sobre o Cérebro e Risco Psiquiátrico
A formação de laços afetivos estáveis, como os encontrados em relacionamentos monogâmicos, traz benefícios significativos para o comportamento e a fisiologia. Um estudo recente, publicado na revista Progress in Neurobiology, investigou os mecanismos neurobiológicos por trás da formação desses laços, utilizando o arganaz-da-pradaria (Microtus ochrogaster) como modelo. Este roedor é um dos poucos mamíferos socialmente monogâmicos, tornando-o ideal para analisar as bases neurais das interações sociais.
A pesquisa revelou que a coabitação social com acasalamento (CSC) está associada ao aumento da proliferação celular e diferenciação neuronal em regiões cerebrais específicas, como a zona subventricular (SVZ) e o giro denteado (GD). Essa descoberta sugere o envolvimento da neurogênese adulta na formação de laços. Análises detalhadas de RNA (RNA-seq) mostraram mudanças significativas na expressão de genes nessas áreas cerebrais, especialmente em fêmeas. Foi observada uma regulação positiva sustentada de módulos mitocondriais e de fosforilação oxidativa, juntamente com uma regulação negativa de vias relacionadas à neurogênese, plasticidade sináptica e migração celular.
Um achado particularmente interessante é a sobreposição entre os genes regulados durante a formação de laços e os genes associados a riscos psiquiátricos em humanos. Por exemplo, genes ortólogos associados ao transtorno do espectro autista (TEA) e à esquizofrenia foram predominantemente regulados negativamente durante a consolidação do vínculo em fêmeas, enquanto o isolamento elevou marcadores de transtorno depressivo maior (TDM) em ambos os sexos. Esses dados sugerem que a formação de laços afetivos envolve redes transcricionais que compartilham arquitetura genética com doenças neuropsiquiátricas, e que o isolamento social pode induzir um perfil oposto, ligado a transtornos mentais. Esses resultados identificam vias moleculares temporais e específicas ao sexo que unem a neurogênese adulta, o metabolismo energético e as redes de genes de risco psiquiátrico ao estabelecimento de vínculos sociais duradouros. A compreensão desses mecanismos pode abrir novas avenidas para intervenções terapêuticas em saúde mental.
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