Repensando a Universidade: Apoio Psicossocial e a Luta por um Ambiente Decolonial

Você já parou para pensar sobre como a universidade, um lugar que deveria ser sinônimo de conhecimento e crescimento, pode reproduzir desigualdades e padrões opressivos presentes na sociedade? A reflexão sobre as práticas decoloniais no ambiente acadêmico se torna cada vez mais urgente, especialmente no contexto brasileiro, onde a história colonial deixou marcas profundas.
A Universidade Como Espelho da Sociedade (e Seus Problemas)
A universidade não é uma ilha. Ela reflete as dinâmicas de poder, as desigualdades sociais e os padrões culturais que moldam nossa sociedade. O artigo “Reflexiones críticas sobre prácticas decoloniales que se dan en la academia” nos convida a repensar as relações que se estabelecem dentro da academia, desafiando as premissas do projeto moderno colonial que, muitas vezes, nos condicionam como comunidade universitária. A hierarquização do conhecimento, a individualização excessiva e a reprodução de preconceitos são apenas algumas das manifestações desse projeto colonial que persistem no ambiente acadêmico.
Mal-Estar Estudantil: Um Sintoma do Problema
O mal-estar social e emocional entre estudantes universitários tem se tornado uma preocupação crescente. Pressão por desempenho, dificuldades financeiras, a sensação de não pertencimento e a falta de apoio são fatores que contribuem para esse quadro. Mas o que muitas vezes não percebemos é que esse mal-estar pode ser, em parte, um sintoma da reprodução de lógicas coloniais dentro da universidade. A competição exacerbada, a valorização excessiva do conhecimento eurocêntrico e a falta de espaços de diálogo e acolhimento podem gerar sofrimento e dificultar o processo de aprendizado e desenvolvimento pessoal.
O Papel do Apoio Psicossocial na Construção de uma Universidade Decolonial
Diante desse cenário, a implementação de programas de apoio psicossocial nas universidades se mostra fundamental. Esses programas podem oferecer um espaço seguro para que estudantes expressem suas dificuldades, recebam apoio emocional e desenvolvam estratégias de enfrentamento. Mais do que isso, o apoio psicossocial pode ser um instrumento de transformação, contribuindo para a construção de uma universidade mais inclusiva, equitativa e acolhedora.
Um dos principais desafios, no entanto, é garantir que esses programas sejam implementados com uma perspectiva decolonial. Isso significa questionar as práticas tradicionais de acompanhamento psicossocial, muitas vezes baseadas em modelos eurocêntricos e individualizantes, e buscar abordagens que valorizem a diversidade cultural, promovam a autonomia e fortaleçam os laços comunitários.
Humanização e Decolonização: Caminhos para um Novo Futuro Acadêmico
A humanização das relações interpessoais e a decolonização das práticas acadêmicas são, portanto, caminhos essenciais para transformar a universidade em um espaço mais saudável e produtivo. Isso implica em:
- Repensar os currículos: Incluir perspectivas e conhecimentos produzidos por grupos historicamente marginalizados, como povos indígenas, comunidades negras e populações periféricas.
- Promover o diálogo intercultural: Criar espaços de encontro e troca de experiências entre diferentes grupos sociais e culturais.
- Valorizar a diversidade: Reconhecer e celebrar as diferenças individuais e coletivas, combatendo o preconceito e a discriminação.
- Fortalecer os laços comunitários: Incentivar a criação de redes de apoio e solidariedade entre estudantes, professores e funcionários.
- Questionar as hierarquias: Promover relações mais horizontais e participativas, rompendo com a lógica da dominação e opressão.
Conclusão: A Universidade que Queremos
A luta por uma universidade decolonial é um processo contínuo e desafiador, que exige o engajamento de toda a comunidade acadêmica. Ao questionarmos as práticas tradicionais, valorizarmos a diversidade e fortalecermos os laços comunitários, podemos construir um ambiente mais justo, equitativo e acolhedor, onde todos os estudantes tenham a oportunidade de desenvolver seu potencial máximo e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Que reflexões como essa sirvam de combustível para a transformação que tanto almejamos.
Fonte original: https://www.scielo.br/j/cadbto/a/QBw5zNQjLx8qbnMFfSVn5KJ/?lang=en