Mobilização Precoce em UTIs Neurológicas: Caminho para a Recuperação Funcional
Imagine-se em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), enfrentando um momento delicado após uma lesão cerebral grave. Além da luta pela sobrevivência, a preocupação com a recuperação da funcionalidade, ou seja, a capacidade de se movimentar e realizar atividades do dia a dia, é constante. Felizmente, a mobilização precoce surge como uma luz no fim do túnel, oferecendo esperança e promovendo a recuperação.
O Desafio da Imobilidade em Pacientes Neurocríticos
Pacientes neurocríticos, aqueles que sofrem lesões cerebrais graves como traumatismos cranioencefálicos (TCE), Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou hemorragias intracranianas, frequentemente necessitam de cuidados intensivos e ventilação mecânica invasiva (VMI). Essa combinação, embora vital para a sobrevivência, pode levar a um ciclo vicioso de imobilidade. O uso de sedativos, bloqueadores neuromusculares, e dispositivos invasivos, somado ao próprio estado de consciência alterado, contribui para a perda de força muscular, rigidez articular e outras complicações.
Essa imobilidade prolongada pode levar a diversas consequências negativas, como:
- Aumento do tempo de permanência na UTI e no hospital.
- Maior risco de infecções.
- Dificuldade no desmame da ventilação mecânica.
- Redução da qualidade de vida a longo prazo.
Mobilização Precoce: Uma Abordagem Proativa
A mobilização precoce surge como uma estratégia fundamental para combater os efeitos da imobilidade. Ela consiste em iniciar exercícios terapêuticos e atividades de movimentação o mais cedo possível, mesmo com o paciente ainda na UTI e, em alguns casos, sob ventilação mecânica. Isso pode incluir desde exercícios passivos no leito até a realização de transferências para a cadeira e, eventualmente, a caminhada com auxílio.
Os benefícios da mobilização precoce são vastos e bem documentados. Um estudo recente, publicado no periódico Fisioterapia e Movimento, avaliou a mobilidade funcional de pacientes neurocríticos submetidos a um protocolo de mobilização precoce e constatou uma melhora significativa entre a admissão e a alta da UTI. Os resultados mostraram que os pacientes progrediram da restrição total ao leito para a capacidade de realizar atividades como sentar, transferir-se da cama para a cadeira e caminhar com assistência. Além disso, o estudo observou altas taxas de sucesso no desmame ventilatório e altas hospitalares.
O que o estudo revelou
A pesquisa, realizada em um hospital-escola, acompanhou 75 pacientes com uma idade média de 52 anos. As principais descobertas foram:
- Melhora significativa da funcionalidade entre a admissão e a alta da UTI (p < 0.0001).
- Redução significativa do escore de restrição total (p < 0.0001).
- Aumento significativo dos escores de mobilidade moderada e ligeira (p < 0.0001).
- 85% de sucesso no desmame da ventilação mecânica.
- 95% de taxa de alta da UTI.
A Importância da Fisioterapia na Mobilização Precoce
A fisioterapia desempenha um papel crucial na implementação da mobilização precoce. O fisioterapeuta é o profissional capacitado para avaliar as condições clínicas do paciente, identificar as limitações funcionais e elaborar um plano de tratamento individualizado. Esse plano pode incluir:
- Exercícios de alongamento e fortalecimento muscular.
- Treino de equilíbrio e coordenação.
- Reeducação da marcha.
- Estimulação sensorial.
É importante ressaltar que a mobilização precoce deve ser realizada com segurança e sob supervisão de profissionais qualificados. O fisioterapeuta monitora constantemente os sinais vitais do paciente e adapta o tratamento de acordo com a sua tolerância e evolução clínica.
Considerações Finais
A mobilização precoce é uma ferramenta poderosa na recuperação de pacientes neurocríticos. Ao promover a restauração da funcionalidade, ela contribui para a redução do tempo de internação, a diminuição das complicações e a melhora da qualidade de vida. Se você ou alguém que você conhece está enfrentando uma situação semelhante, converse com a equipe médica sobre os benefícios da mobilização precoce e como ela pode fazer a diferença no processo de recuperação.
Fonte original: https://www.scielo.br/j/fm/a/vhwMH6BbfF5S3P7mbM4yXqb/?lang=en
