A pandemia da COVID-19 jogou o mundo em um turbilhão de incertezas e mudanças abruptas. No universo da educação, a transição para o ensino remoto emergencial (ERE) foi como tentar pilotar um avião em pleno voo, com um manual de instruções sendo escrito em tempo real. E para a fisioterapia, uma área tão dependente do toque e da prática presencial, essa mudança representou um desafio ainda maior. Será que deu certo? O que pensaram alunos, professores e preceptores sobre essa experiência? É o que vamos desvendar agora.
## A Fisioterapia Fora da Caixa: Imersão Digital Forçada
De repente, o ambiente de aprendizado da fisioterapia, antes dominado por macas, modelos anatômicos e o contato direto com o paciente, foi invadido por telas, microfones e a inevitável instabilidade da internet. A necessidade de isolamento social impulsionou o uso de ferramentas digitais para manter o ensino em andamento. Mas como essa adaptação foi percebida por quem estava na linha de frente, os estudantes, os professores e os preceptores?
Um estudo recente publicado na revista *Fisioterapia e Pesquisa* mergulhou nessas percepções, buscando entender como o ERE impactou a formação em fisioterapia durante o período de distanciamento social. A pesquisa, realizada através de questionários online, coletou a opinião de 709 participantes, entre alunos de graduação e pós-graduação, professores e preceptores de diversas instituições de ensino superior (IES) pelo Brasil.
## Quem Participou da Missão Ensino Remoto?
A amostra revelou um perfil interessante: a maioria dos participantes era do sexo feminino (80,2%), com idades entre 20 e 34 anos para os alunos e entre 20 e 49 anos para os professores e preceptores. A grande maioria (92%) estava ligada a IES privadas, e uma parcela significativa (82,9%) era da região Sudeste do país. Esses dados nos dão uma ideia do contexto em que o ERE se desenrolou na fisioterapia.
## Confiança Digital: A Chave para o Sucesso?
Um dos pontos cruciais levantados pelo estudo foi a confiança no uso de plataformas digitais. Aqui, a pesquisa revelou uma diferença notável entre os grupos: enquanto 81,4% dos professores e preceptores se mostraram confiantes no uso das ferramentas online, apenas 58,3% dos alunos compartilhavam do mesmo sentimento.
Essa diferença de confiança pode ter influenciado a forma como cada grupo lidou com os desafios do ERE. Afinal, sentir-se à vontade com a tecnologia é um passo fundamental para aproveitar ao máximo as oportunidades de aprendizado online.
## Impactos Financeiros e Dificuldades de Acesso: Barreiras no Caminho
O estudo também apontou para o impacto financeiro como uma preocupação significativa (86,6%). A pandemia, além de seus efeitos na saúde, gerou instabilidade econômica para muitas famílias, o que pode ter dificultado o acesso a recursos como internet de qualidade e equipamentos adequados para acompanhar as aulas online.
Além disso, 76,6% dos participantes relataram dificuldades de acesso às aulas. Problemas de conexão, falta de equipamentos adequados e até mesmo a necessidade de dividir o computador com outros membros da família foram obstáculos que muitos estudantes e professores precisaram superar.
## Desempenho Acadêmico e Interação Social: A Balança do Ensino Remoto
A participação e a interação durante as aulas foram afetadas para 83,2% dos participantes, e o desempenho acadêmico e profissional também sofreu um impacto negativo para 79,4%. A dificuldade em manter o engajamento online, a falta do contato direto com os colegas e professores e a sobrecarga de atividades foram fatores que contribuíram para essa percepção.
Curiosamente, a correlação entre a confiança no uso de plataformas digitais e o desempenho acadêmico/profissional foi significativa para professores e preceptores, mas não para os alunos. Isso sugere que, para os docentes, a familiaridade com a tecnologia foi um fator determinante para o sucesso no ERE.
## O Futuro da Fisioterapia: Presencial, Remoto ou Híbrido?
Apesar dos desafios e impactos negativos observados, o estudo revelou um dado surpreendente: 79,5% dos participantes expressaram preferência pelo uso contínuo de plataformas digitais no ensino da fisioterapia. Isso não significa, necessariamente, que todos desejam um ensino 100% remoto, mas sim que enxergam valor nas ferramentas online como complemento à formação presencial.
Talvez o futuro da fisioterapia resida em um modelo híbrido, que combine o melhor dos dois mundos: a prática presencial indispensável para o desenvolvimento de habilidades manuais e o uso de tecnologias digitais para ampliar o acesso ao conhecimento, personalizar o aprendizado e promover a interação entre alunos e professores.
## Lições da Pandemia: Um Novo Olhar para a Educação em Saúde
A experiência do ensino remoto emergencial na fisioterapia nos ensinou que a adaptação é fundamental, a tecnologia é uma aliada poderosa e a interação humana continua sendo essencial. A pandemia acelerou a transformação digital na educação e nos abriu os olhos para novas possibilidades. Agora, o desafio é aproveitar as lições aprendidas para construir um futuro mais inovador e acessível para a formação em saúde.