A relação entre a biologia e a teoria psicanalítica, desde os tempos de Freud, tem sido marcada por nuances e controvérsias. No final do século XIX, Freud buscou na teoria neuronal o suporte para seu modelo do aparelho mental. No entanto, as limitações da neurobiologia da época o levaram a explorar o campo metapsicológico. Apesar dessa mudança de foco, as bases neurobiológicas originais mantiveram sua influência no desenvolvimento de sua teoria da mente. Freud destacou a interação entre fatores hereditários e ambientais na formação das estruturas psíquicas.
A visão de Freud de que a diferenciação das estruturas psíquicas ocorre por meio da interação dos organismos com o ambiente e a cultura, juntamente com a herança biológica, ecoava os princípios lamarckianos, que foram rejeitados pela biologia da época. Essa divergência entre a biologia e a teoria psicanalítica, centrada na adesão de Freud aos seus conceitos teóricos, gerou um conflito entre as disciplinas. A psicanálise, buscando entender a complexidade da mente humana, muitas vezes se distanciou das explicações puramente biológicas, focando na experiência subjetiva e nas influências do ambiente.
Entretanto, avanços recentes na biologia, como a epigenética, oferecem a possibilidade de uma reconciliação entre esses campos. A epigenética estuda as mudanças na expressão gênica que não envolvem alterações na sequência do DNA, mas que podem ser transmitidas para as gerações futuras. Isso demonstra que o ambiente pode influenciar a forma como os genes são expressos, abrindo caminho para uma compreensão mais integrada da interação entre a biologia e a experiência na formação da mente humana. A epigenética oferece um novo vocabulário e novas ferramentas para investigar como o ambiente e as experiências de vida podem moldar a nossa biologia e, consequentemente, a nossa psique.
Origem: Link